Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. (v. 1)
Fé não é a ilusão e o sonho humano que muitos acham que é. E quando veem que não acontece uma melhoria de vida nem boas obras, e, ainda assim, muito ouvem e falam da fé, caem no erro de dizer que a fé não é suficiente, que é preciso fazer obras, se é que se quer ficar justo e ser salvo. A consequência disso é que, ao ouvirem o Evangelho, agem precipitadamente e, por esforço próprio, criam um pensamento no coração que diz: “Eu creio”. Isso eles então consideram uma fé verdadeira. Fé, entretanto, é uma obra divina em nós que nos modifica e nos faz renascer de Deus (João 1.13), mata o velho Adão, transforma-nos em pessoas bem diferentes de coração, sentimento, mentalidade e todas as forças, e traz consigo o Espírito Santo. Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas obras a fazer, e sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar. Quem, porém, não realiza tais obras, é pessoa sem fé, que anda às apalpadelas à procura de fé e boas obras e não sabe o que é fé nem boas obras, e ainda fica falando muito e conversando fiado sobre as mesmas. Fé é uma confiança viva e inabalável na graça de Deus, tão certa de si que ela não se importaria de morrer mil vezes. E semelhante confiança e reconhecimento da graça divina tornam alegre, persistente e agradável perante Deus e todas as criaturas, o que é ocasionado pelo Espírito da fé. Por isso, sem coação, ela se dispõe voluntariamente a fazer o bem a todo mundo, a servir a todo mundo, sofrer tudo, por amor e em louvor a Deus que lhe demonstrou tamanha graça, de sorte que é tão impossível separar as obras da fé, como é impossível separar a luz do fogo.
M. Lutero