Todos estes perseveravam unânimes em oração. (v. 14)
Há quem pergunte: “Por que, afinal, Deus nos obriga a pedir e apresentar o que nos falta, em vez de
concedê-lo sem ser solicitado, já que ele conhece e vê toda a necessidade melhor do que nós próprios? Afinal, ele concede gratuitamente todos os dias ao mundo inteiro tantos benefícios, como sol, chuva, alimento, dinheiro, corpo e vida. Isto ninguém lhe pede e nem por isso se lhe agradece, pois ele sabe que o mundo não pode dispensar um dia sequer a luz, a comida e a bebida; por que, então, manda pedir por estas coisas?”.
Resposta: é claro que ele não nos manda orar para instruí-lo sobre o que nos deve dar, mas sim para que reconheçamos e professemos os benefícios que ele nos concede e que ainda quer e pode nos dar muito mais, isto é, para que através da nossa oração nos instruamos mais a nós próprios do que a ele; pois, assim, passo por uma transformação, de modo que não procedo como os ímpios, que não o reconhecem nem agradecem; desta forma, meu coração se volta para ele e é despertado para louvá-lo e agradecer-lhe, nele buscando refúgio nas aflições e dele esperando ajuda. E tudo serve para que eu aprenda cada vez mais a reconhecer que Deus ele é. E por que procuro ajuda junto a ele e por que bato à sua porta, ele também se dispõe a conceder em abundância tanto maior.
Eis, pois, o verdadeiro pedinte, diferente dos tagareladores inúteis que muito papeiam, porém jamais se dão conta dessas coisas. Aquele, porém, sabe que tudo que tem é dádiva divina e diz do fundo do coração: Senhor, eu sei que não consigo criar nem preservar para mim sequer um pedaço do pão de cada dia, nem guardar-me de qualquer dificuldade ou infortúnio; por isso o esperarei de ti que o ordenas a mim e prometes atender-me, como aquele que se antecipa ao meu pensamento e supre a minha necessidade.
M. Lutero