Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências. (v. 14)
“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”, isto é, “Imitai o exemplo e as virtudes de Cristo. Fazei e sofrei o que ele fez e sofreu”. Vemos em Cristo a suma paciência, a suma bondade e amor e uma moderação admirável em todas as coisas. Devemos revestir-nos desse ornamento de Cristo, isto é, imitar suas virtudes.
Revestir-se de Cristo, porém, de acordo com o Evangelho, não é uma questão de imitação, mas de um novo nascimento, de uma nova criação. Isso quer dizer que eu seja revestido do próprio Cristo, isto é, de sua inocência, justiça, sabedoria, poder, salvação, vida, de seu Espírito. Estamos vestidos com a vestimenta de peles de Adão, que é uma vestimenta mortal e do pecado, isto é, todos nós estamos sujeitos e vendidos à escravidão do pecado. Uma cegueira horrível, uma ignorância e um desprezo e ódio de Deus estão presentes em nós. Além disso, estamos cheios de concupiscência maligna, imundícia, avareza. Essa vestimenta, isto é, essa natureza corrupta e pecaminosa, que Paulo costuma chamar de velho homem, nos sobreveio de Adão, por propagação. Dela, como de suas obras, é necessário despojar-se (Efésios 4.22; Colossenses 3.9) para que, de filhos de Adão, sejamos feitos filhos de Deus. Isso não acontece com a troca de vestes, não, por nenhuma espécie de leis e obras, mas, pelo renascimento e pela renovação, que ocorre no Batismo, de acordo com as palavras de Paulo: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes”. Nasce, portanto, nos batizados uma nova luz e chama, brotam novas e piedosas emoções, o temor a Deus, a confiança nele, a esperança; surge uma nova vontade. Isso, então, é revestir-se, apropriada e verdadeiramente, de Cristo de acordo com o Evangelho.
M. Lutero