Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar. (v. 25)
Cristo ergue sua voz, dizendo que é preciso algo mais do que ter o suficiente aqui na terra, como a dizer: caros discípulos, quando forem pregar ao povo, irão constatar que todos ensinam e creem o seguinte: quem é rico e poderoso é bem-aventurado. Por outro lado, quem é pobre e miserável, esse está rejeitado e condenado por Deus. Os judeus estavam persuadidos da crença de que, se uma pessoa é bem-sucedida, isso seria um sinal de que Deus lhe era gracioso, e vice-versa. A razão para isso era o fato de terem muitas e grandes promessas de bens terrenos e corporais da parte de Deus, que ele queria dar aos piedosos. Nisso confiavam, pensando que, se tinham essas coisas, estariam bem com Deus. O livro de Jó também foi escrito com esse objetivo, pois sobre esse ponto seus amigos discutem e debatem, insistem em que ele devia ter culpa perante Deus e o apontam como quem estava sendo castigado por causa disso. Por isso deveria confessar sua culpa, converter-se e começar uma vida pia. Assim, Deus novamente tiraria o castigo. Essa doutrina não podia resultar em outra coisa senão que as pessoas se tornassem avarentas e cada qual só tivesse uma preocupação: ter o suficiente e dias bons, sem qualquer carência e adversidade. Todos foram levados a pensar: se for bem-aventurada a pessoa que está bem de vida e tem o suficiente, então tenho que dar um jeito para não ficar para trás. Por isso Cristo prega um sermão novo para os cristãos. Se estão passando por dificuldade, sofrem pobreza e têm que dispensar riqueza, poder, honra e dias bons aqui na terra, não obstante serão bem-aventurados e receberão não uma recompensa temporal, e, sim, uma recompensa diferente, eterna; no Reino dos céus eles terão abastança.
M. Lutero