Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita. (v. 3)
Deve ser observado em relação ao dar algo que não se refere a coisas exteriores, como a mão ou bolsa, mas ao coração, a fim de que não seja um dar perverso e falso. Quanto a isso diz o Senhor em Mateus 6.3: “Ao dar esmola, ignore sua mão esquerda o que faz a sua direita!”. Pois não é o bastante que você dê tanto aos amigos quanto aos inimigos, que você dê somente aos necessitados, e que também ainda retenha o suficiente para comer para os seus familiares e que possa dar ainda outra vez, enquanto você viver. Observe, antes de tudo, que esse dar ocorra como S. Paulo ensina em Romanos 12.8: “Quem dá, faça-o com simplicidade”. Quer dizer, dê com coração símplice, e não por causa da honra!
Faça também o que puder, a fim de esquecê-lo de novo rapidamente, como se nunca tivesse dado alguma coisa ou alguma vez feito algum bem! De outro modo, lhe aderirá o fedor do diabo, sentindo-nos lisonjeados e pretendendo ser reconhecidos por essa boa ação. Essas pessoas são as que se fazem anunciar com trombetas e a respeito das quais Cristo fala em Mateus 6.2. São as que gostam de ouvir dizer a seu respeito: “Vejam, vejam como dá este ou aquele! Meu Deus! Ele ainda vai matar-se de tanto dar”. Essas pessoas já receberam sua recompensa; pois um dar dessa espécie é totalmente perdido e em vão!
No entanto, ainda mais aborrecedor é observar aqueles que dão de tal maneira que querem, com essa ação, amarrar a si as pessoas, às quais dão alguma coisa. Buscam, assim, sua própria vantagem de uma maneira vergonhosa. Querem que os festejemos.
Contudo, o dar de coração singelo, isso é difícil! Apenas poucos comprovam-se aí como cristãos! Todavia, não custa dinheiro, nem esforço, nem trabalho. Requer apenas que o coração se disponha de maneira reta.
M. Lutero