Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. (v. 6)
Se nós podemos apascentar e governar a nós mesmos, guardar-nos do erro, alcançar graça e perdão dos pecados por mérito próprio, resistir ao diabo e toda desgraça, vencer o pecado e a morte por nós mesmos, então a Escritura deve estar mentindo quando afirma que somos ovelhas perdidas, dispersas, machucadas, fracas e indefesas. Nesse caso também não precisamos de Cristo como pastor que nos procure, reúna, guie, trate, cuide, dê força para enfrentar o diabo. Então, ele também deu sua vida por nós em vão. Se podemos fazer e conseguir tudo isso por força própria e piedade pessoal, então podemos dispensar completamente a ajuda de Cristo.
Aqui você tem justamente o contrário, ou seja, que você, ovelha perdida, não pode por si mesmo voltar para junto do pastor. Por si mesmo, você só pode extraviar-se e, se Cristo, o bom pastor, não saísse à sua procura e o trouxesse de volta, você acabaria sendo presa do lobo. Mas eis que ele vem, procura, encontra e leva você de volta ao seu aprisco, ou seja, por meio da Palavra e sacramento o leva à cristandade, dá sua vida por você, conserva-o, doravante, no caminho certo, para que você não incorra em erro. Aqui não se ouve nada a respeito de suas forças, suas boas obras e méritos, a menos que você considere extraviar-se, estar indefeso e perdido como sendo força, boa obra e mérito.
Somente Cristo é forte o suficiente para impedir que você pereça ou seja arrebatado de sua mão (João 10). Você não pode fazer nada nesse sentido. A única coisa que pode fazer é espichar as orelhas, ouvir e receber com gratidão esse extraordinário tesouro, bem como aprender a reconhecer nitidamente a voz de seu pastor, segui-lo e não dar ouvidos à voz do estranho.
M. Lutero