E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (v. 2)
Este comentário é feito em razão do aperfeiçoamento. Pois ele fala àquelas pessoas que já começaram a ser cristãs. A vida delas não se encontra em um estado de repouso, mas sim, num movimento do bom para o melhor, assim como um doente passa da doença à saúde.
O ser humano está sempre no não ser, no vir a ser, no ser sempre em privação, na potencialidade, em processo; sempre no pecado, na justificação, na justiça, ou seja, ele é sempre um pecador, sempre um penitente, sempre justo. Pois o fato de fazer penitência, cria um ser humano justo a partir de um injusto. Portanto, a penitência é o meio entre a injustiça e a justiça. Dessa forma, um ser humano está no pecado como o terminus a quo [ponto de partida], e na justiça como o terminus ad quem [ponto de chegada]. Por conseguinte, se nos arrependemos sempre e fazemos penitência, sempre somos pecadores e, não obstante, também somos, pela mesma razão, justos e justificados; somos em parte pecadores e em parte justos, isto é, nada somos senão penitentes.
De maneira semelhante, e por outro lado, os ímpios, que se afastam da justiça, mantêm uma posição média entre o pecado e a justiça, mas num movimento contrário. Pois esta vida é o caminho para o céu e para o inferno. Ninguém é tão bom que não possa tornar-se melhor, e ninguém é tão mau que não possa tornar-se pior, e assim por diante, até que, enfim, cheguemos a nossa forma definitiva. O apóstolo toca neste ponto de maneira bela quando não diz: “Sejais transformados para a renovação”, mas sim na renovação, ou “mediante a renovação”, ou, melhor ainda, “Sejais transformados pela renovação da vossa mente”.
M. Lutero