Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (v. 6)
Depois da esmola ou do fazer o bem ao próximo, também este ato cabe ao cristão: que ele ore. Pois assim como a necessidade desta vida exige que façamos o bem ao próximo e que vamos ao encontro de sua carência (pois é para servir e ajudar um ao outro que convivemos na terra), assim também o fato de, diariamente, nos encontrarmos em toda a espécie de risco e carência nesta vida, os quais não podemos evitar, faz com que sempre precisemos, também, invocar a Deus e buscar auxílio tanto para nós como para todo o mundo.
Aqui, Cristo censura e repudia toda a oração daqueles que com tanto empenho a praticavam, só para fazer grau perante os outros. Isto é que importa: que seja uma oração sincera, e não uma hipocrisia. Isso quer dizer principalmente que larguem a falsa intenção de quererem orar em função da boa fama, do prestígio ou coisa que o valha; não que fosse proibido, que não se devesse orar na rua ou publicamente, pois um cristão não está preso a lugar algum e pode orar em qualquer parte, seja na rua, no campo ou na igreja. Só que não deve acontecer em função das pessoas, buscando proveito e renome.
Não é necessário trancar-se sempre no quarto, embora seja muito conveniente estar sozinho para orar, porque então a pessoa pode derramar sua oração perante Deus, livremente em palavras e gestos, o que não pode fazer na frente dos outros. Pois, mesmo que se possa orar no coração sem quaisquer palavras e gestos, estes ajudam para que o espírito seja tanto mais despertado e aceso.
No mais, deve-se orar quase que sem cessar no coração, pois o cristão sempre tem o espírito da oração dentro de si, de modo que seu coração se encontra em constante suspiro e súplica perante Deus.
M. Lutero