Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. (v. 48)
Não podemos ser nem tornar-nos perfeitos no sentido de estarmos isentos de pecados. Ser perfeito significa que, primeiro, a doutrina seja inteiramente correta e perfeita e que, em segundo lugar, também a vida se oriente nela e seja de acordo. Aqui, por exemplo, a doutrina é que não se deve amar apenas os que nos fazem o bem, mas que, também, amemos nossos inimigos. Quem ensina isso e vive de acordo com esse ensinamento, esse ensina e vive com perfeição.
Mas entre os judeus tanto a doutrina como a vida são imperfeitas e erradas, porque ensinam a amar somente seus amigos e, também, a viver de acordo. Pois isso é um amor retalhado ou dividido, é apenas meio amor. Cristo, porém, quer um amor inteiro, redondo, não retalhado, que se ame o inimigo e se lhe faça o bem tanto quanto ao amigo. Assim sou chamado uma pessoa realmente perfeita, alguém que tem e observa a doutrina bem redonda. Ainda que, depois, a vida não corresponda a ela nos detalhes, como, aliás, não pode corresponder, porque carne e sangue atrapalham incessantemente – isso não prejudica a perfeição, desde que nos esforcemos, vivamos de acordo e avancemos nela diariamente, de tal modo que o espírito domine a carne e a refreie, a subjugue e a contenha, não lhe dando espaço para agir contra esse ensinamento.
Devemos manter o amor num caminho intermediário correto, igual para com todos, para que ninguém seja excluído. Assim sendo, possuo a perfeição cristã, que não se restringe a cargos ou estados especiais, mas é e deve ser comum a todos os cristãos e que se forma e orienta segundo o exemplo do Pai celestial. Ele não fraciona nem parcela seu amor e seus benefícios, mas permite que, pelo sol e pela chuva, todas as pessoas na terra os possam usufruir de igual modo, sem excluir ninguém, seja ele bom ou mau.
M. Lutero