Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus. (v. 21)
Deus não nos quer atribuir o restante do pecado, não o quer punir ou nos condenar por causa dele, mas quer encobri-lo e perdoar como se ele nada fosse. E isso não por causa de nós, da nossa dignidade ou das nossas obras, mas por causa do próprio Cristo em quem cremos.
Assim, o cristão é, ao mesmo tempo, justo e pecador, santo e profano, inimigo e filho de Deus. Esses conceitos contrários alguns não admitem, porque não compreendem o verdadeiro sentido da justificação. Foi por isso que eles forçaram os homens a fazer o bem por tanto tempo, até que não sentissem mais nenhum pecado. Por esses meios, deram a muitos, que começaram a empenhar-se em se tornar justos, mas não o conseguiram, a oportunidade de serem levados à loucura.
Nós, pelo contrário, ensinamos e consolamos o aflito pecador dessa maneira: “É impossível, irmão, que te tornes tão justo nesta vida que teu corpo seja brilhante e sem manchas como o sol, mas ainda continuas tendo rugas e manchas e, todavia, és santo”. Mas tu dizes: “Como posso ser santo, quando ainda tenho e sinto o pecado?”. É bom que sintas e reconheças teu pecado; dá graças a Deus e não desesperes. É um passo para a saúde, quando o doente reconhece e confessa a sua doença. “Mas como me tornarei livre do pecado?” “Corre para Cristo, o Médico, que sara os arrependidos de coração e salva os pecadores. Crê nele. Se crês, és justo, porque atribuis a Deus a glória de que ele é onipotente, misericordioso e verdadeiro. Então tu justificas e louvas a Deus. Em suma, atribuis a ele a divindade e todas as coisas. E o que ainda resta de pecado em ti não é imputado, mas é perdoado por causa de Cristo em quem crês, que é perfeitamente justo num sentido formal, cuja justiça é tua e teu pecado é dele.”
M. Lutero